Carta aberta ao Presidente da República Federativa do Brasil

Категорія: Українська громада у Португалії
Дата публікації
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9A SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL,
Exmo. Senhor Luíz Inácio Lula da Silva
Aproveitando a oportunidade da visita de Vossa Excelência a Portugal vimos por este meio, e em nome da Comunidade Ucraniana em Portugal, dos ucranianos nos países da União Europeia e nos mais de 8 milhões de refugiados da Ucrânia, clarificar alguns pontos que nos parecem de suma importância quando se fala da guerra na Ucrânia:
1. A injustificada e brutal agressão da Federação Russa à Ucrânia obrigou os cidadãos ucranianos a deixarem as sua casas para, literalmente, salvarem as suas vidas;
2. O que se está a passar neste momento na Europa do Leste não é apenas um conflito militar entre dois países vizinhos que se consegue terminar com um simples acordo de paz;
3. Esta guerra iniciada pelo Presidente Putin não é só contra os ucranianos. Ela visa “destruir a estrutura de segurança europeia”, como bem referiu o Chanceler alemão Olaf Scholz, e atacar também todos os que defendem os ideais democráticos e os princípios da soberania territorial e autodeterminação dos povos;
4. A Federação Russa está a perpetrar, desde 2014, e mais intensamente a partir de 24 de Fevereiro de 2022, um genocídio continuado contra o povo ucraniano e ostártaros em todo o território nacional da Ucrânia (com foco no Donbass e na Crimeia, que como saberá são regiões inalienáveis da Ucrânia);
5. Além dos assassinatos continuados e dos ataques indiscriminados contra civis( muitos deles mulheres e crianças), do desrespeito pelos cordões humanitários acordados e da ameaça ao mundo com armas nucleares, a Federação Russa tem devastado de forma total e absoluta todo o nosso território e infraestruturas;
6. Em várias declarações de líderes russos, nomeadamente do Presidente Putin, do Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill, entre outros, assistimos a insultos e mentiras graves como aquelas que afirmam que os ucranianos são nazis e que a Ucrânia enquanto país e Estado soberano, livre e independente, não pode existir.
Ora é pois preciso entender que a justificação real para Moscovo invadir a Ucrânia não é a alegada defesa dos russófonos que vivem no território ucraniano. Aliás, gostaríamos de clarificar que esta comunidade ucraniana russófona luta dia e noite contra as tropas invasoras russas, lado a lado e integrada nas Forças Armadas Ucranianas e ombro a ombro com representantes de outras nações e etnias, cidadãos da Ucrânia.
O cerne da questão é que Putin não quer ter como vizinho nenhum país soberano, livre, democrático, independente e não-corrupto, porque receia que possa servir de exemplo aos demais povos da Federação Russa para também realizarem mudanças de um regime autocrático ou de um regime com laivos totalitários para um regime democrático-liberal nos seus próprios países e assim pertencer ao rol dos países que constituem o mundo livre.
Senhor Presidente, mais do que qualquer outro povo, os ucranianos querem a justa paz, já que são os que pagam o preço mais elevado com as suas próprias vidas, sangue e devastação do próprio País ao defenderem-se das agressões bárbaras de Moscovo.
Sabemos que alguns políticos internacionais têm interesses que os levam a negociar com o sanguinário e ditador Vladimir Putin, de forma a obterem vantagens pessoais. Mas é importante sublinhar que qualquer destas vantagens tem o preço das vidas e do sofrimento dos ucranianos e que estas vidas, como todas as vidas humanas, não têm ideologia.
Neste contexto, consideramos que qualquer tipo de apoio que o Brasil possa entender conferir à Federação Russa será desprestigiante, levará a uma desconfiança da comunidade internacional, incluindo acerca da sua posição no Conselho de Segurança da ONU.
Ninguém quer ver o bom nome do Brasil, enquanto nação democrática e livre, manchado como aliado do regime criminoso do Kremlin, pelo que as recentes declarações de Vossa Excelência nos deixaram muito preocupados e apreensivos.
Sua Excelência Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva, qualquer acordo de paz justa proposto pela Federação Russa acabará em campos de concentração para o extermínio da nação ucraniana com a solução silenciosa “Z”. Já vivemos essa situação no século passado com a acção de extermínio perpetrada pelos nazis e que culminou com a organização comunista do Holodomor, numa tentativa de erradicar qualquer sobrevivente ucraniano. Resistimos e sobrevivemos.
Nós, os ucranianos, iremos continuar a lutar pelas nossas vidas e pelas vidas das nossas crianças que Putin deporta para a Rússia ao mesmo tempo que executa os seus pais. Permita-nos recordar que a deportação ilegal das nossas crianças foi, aliás, a base de acusação para a emissão de um mandato de captura contra Vladimir Putin emitido pelo Tribunal Penal Internacional.
Neste momento, enfrentamos uma força superior em termos de número de homens e, por isso, precisamos de todo o apoio internacional que pudermos.
Uma questão tornou-se muito clara: esta guerra já dividiu o mundo em dois polos.
Um que defende a liberdade, a ordem e o progresso, e outro que põe os seus interesses imperialistas e oligárquicos acima do bem supremo da vida humana, da ordem e paz internacionais.
Senhor Presidente, se há momentos na História em que a neutralidade não se pode confundir com a conivência nem o temor este é, definitivamente, um deles.
Os ucranianos nunca esquecerão os bravos militares brasileiros que ajudaram a libertar a Europa do jugo totalitário e, por isso, acreditamos que é chegada a hora de Vossa Excelência comandar o Brasil na direcção do lado certo da História e alinhada com o mundo livre!
Aproveitamos ainda esta ocasião para reiterar o convite do Presidente Zelensky a Sua Excelência, para visitar a Ucrânia e ver em loco com os seus próprios olhos o significado de “paz russa”.

Com os melhores cumprimentos,
Presidente do Congresso Europeu dos Ucranianos,
Bogdan Raicinec
Presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal,
Pavlo Sadokha

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