Procurar ou provocar?

Категорія: Португалія
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1De Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos ucranianos em Portugal, recebeu o DN o seguinte texto referente a um artigo da autoria de Pedro Tadeu, publicado a 31 de março: "O Holodomor não se discute?".

Procurar ou provocar?

Na véspera da Páscoa, quando todo o mundo cristão, em paz, se prepara para relembrar o sofrimento de Cristo que levou todos pecados humanos para cruz no Calvário, um jornalista com preferências políticas de esquerda pública no DN o artigo "O Holodomor não se discute?"

Claro que se discute. Como temos ainda de discutir muitos temas omitidos da história mundial. Dores e sofrimentos que o tempo não curou e que precisam de ser reconhecidos e condenados por parte das instituições internacionais para conseguir ultrapassar os sentimentos de vingança das vítimas.

Nós ucranianos gostaríamos muito de discutir a história da Europa. Como por exemplo: os nacionalistas ucranianos do século passado que tentaram salvar a vida dos seus compatriotas e a de outras etnias que viviam na Ucrânia e que contra a sua vontade entraram na guerra e foram obrigados a lutar tanto do lado dos nazis como dos comunistas. Tive a oportunidade falar com pessoas que viveram nesses tempos que me disseram que juntamente com os nacionalistas ucranianos lutaram, contra os nazis alemães e os comunistas de moscovo, judeus, russos, georgianos, lituanos, chechenos e tártaros. Os dois impérios queriam um novo mundo com novos homens, onde não havia lugar para outras culturas e religiões. Ainda há muito para descobrir sobre a história desta guerra, porque se não fossem os nacionalistas ucranianos, mais pessoas que viviam na Ucrânia teriam sido levadas para os campos de concentração ou deportadas para os desertos da Sibéria e do Cazaquistão.

O tema do Holodomor precisa de ser mais discutido. Em 1933 o jornalista Gareth Jones depois da sua visita à Ucrânia disse ao mundo ocidental: "NÃO EXISTE PÃO!" Ele passou por aldeias da Ucrânia soviética e testemunhou as mortes em massa provocadas pela fome. Mais tarde, o artigo do Gareth, será usado pelo famoso Jorge Orwell na sua obra - "A Quinta dos animais". Mas na altura, o mundo ocidental não acreditou na palavra do desconhecido jornalista, ao contrário do famoso jornalista Walter Duranty do New York Times, que era agente de Moscovo e que conseguiu contradizer a existência da fome na Ucrânia. Mais tarde, em 1935 Gareth Jones morreu em circunstâncias misteriosas.

É verdade que precisamos estudar bem esta história, até para melhor perceber onde é a margem entre o jornalismo e a propaganda.

E hoje em toda a fronteira do leste da Ucrânia estão instaladas 28 brigadas militares russas com armas de ataque. Não há dia que o alto político russo não ameace a Ucrânia com o avanço militar até Kiev. Precisamos urgentemente de discutir isso. A Ucrânia está ameaçada por um país que possui o maior armamento nuclear, dirigido por um líder internacionalmente reconhecido como killer.

Mas não são estes assuntos, que o jornalista da esquerda levanta. Esta verdade não interessa.

Em geral, é um paradoxo: os jornalistas da esquerda que tanto declaram o anti-imperialismo, nunca criticam os verdadeiros impérios com regimes totalitários. Estão cegos para problemas dos direitos humanos na Rússia, Bielorrússia, Correia do Norte, Cuba e dezenas de outros países com ditaduras ideológicas e miséria social.

Sempre que leio artigos parecidos com tom de ideologia esquerda tenho vontade de gritar: por favor parem com a propaganda! Nós ucranianos já sentimos as consequências reais disso.

Sempre achei Portugal um país exemplar de tolerância para com as outras culturas e tradições, mas também existe uma perseguição ideológica e uma enorme intolerância do lado dos partidos da esquerda e comunistas em Portugal que tentam ensinar aos ucranianos a sua própria historia.

E por fim. Acho que na véspera da Páscoa quando pessoas de boa vontade procuram o diálogo entre si, para "construção de pontes e não de muros" (segundo as palavras do Papa Francisco ditos na sua visita ao Iraque), o artigo do jornalista Pedro Tadeu do DN sobre Holodomor é uma provocação que mais uma vez ofende os milhares ucranianos vivos e mortos.

Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos ucranianos em Portugal

 

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