Apostando em caos, a Rússia pretende acabar com a democracia na Europa

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3A migração em massa de ex-cidadãos soviéticos aos países de Ocidente abriu para os serviços secretos e de espionagem russos as enormes perspetivas. Em particular, dos emigrantes de Leste começaram a formar-se partidos cujo objetivo de chegar aos parlamentos dos países da União Europeia.

Nos tempos soviéticos, o Moscovo influenciava a situação em países estrangeiros, recrutando agentes nos seus círculos políticos, comerciais e culturais.

A primeira tentativa “pan-europeia” foi realizada em 2004, quando surgiu a “Aliança Russa Europeia” – uma suposta ONG que reunia figuras públicas russas, jornalistas e políticos de países da UE. A aliança era composta por representantes de 20 países europeus. O primeiro nome de trabalho desta organização foi “Partido Russo da Europa”.

Na Alemanha, em 2013, foi criado um partido de emigrantes "Unidade", liderado por Dmitry Rempel, ex-activista do SPD (Sozialdemokratische Partei Deutschlands). Também, na Alemanha, um dos métodos de ação mais praticados dos agentes de Moscovo é subornar os principais partidos parlamentares existentes, de direita ou da esquerda. Hoje existem dois parlamentares russos no Bundestag, ambos do partido de extrema-direita “Alternativa para Alemanha”. O partido de esquerda Die Link também é abertamente pró-russo.

Mais um “teatro” da criação do “Partido Russo” do Kremlin está neste momento realizado em Chipre. A lealdade da Rússia de Putin à maioria absoluta dos cipriotas russos está fora de dúvida. Muitos dos empresários russos que se estabeleceram em Chipre são funcionários e agentes de serviços especiais russos.

“Os partidos de bolso” também são projetos de serviços especiais russos cujo objetivo é ter sob o seu controlo partidos com assento parlamentar, a fim de influenciar a situação política, desestabilizando-a em diferentes países, para levar ao poder os parlamentares russos obedientes e leais ao Kremlin.

Em geral, as tarefas dos serviços especiais russos têm mais ou menos esta ideia: “Dependente das circunstâncias e da situação atual, preparar e criar as situações de crise”. Uma das táticas mais importantes é a criação de inúmeras organizações não-governamentais dos migrantes da antiga União Soviética e da Rússia, com imitação da atividade social, mas que na verdade têm como objetivo realização dos interesses da política do Moscovo no mundo. Eles têm várias tarefas. Primeiro, conquistar o meio de imigração, promover o regime de Putin e recrutar seus apoiantes. Em segundo lugar, penetrar na vida social e política de estados estrangeiros, desestabilizá-los, recrutar agentes e influenciar em uma direção favorável ao governo do Putin. A terceira tarefa é a pura espionagem militar e industrial.

As missões diplomáticas russas nos países da EU servem como sedes dos serviços especiais russos. Com a chegada de Putin ao poder, Moscovo decidiu usar a República Checa como base para suas atividades de espionagem e propaganda em toda a região da Europa Central. Isso, porque o atual presidente da República Checa, Zeman, tem uma posição claramente pro-Moscovo e que nega quaisquer fatos de espionagem russa apresentados dos serviços especiais checos. Segundo ele, não há espiões russos no país.

Em muitos aspetos, políticos checos que têm laços económicos particulares com empresas russas, o que ajuda “fechar olhos” às políticas agressivas de Moscovo. Por exemplo, o Kremlin tem grande influência nos lobistas do sector da energia nuclear, recruta cientistas, industriais e gestores de grandes empresas ao nível internacional.
Após o colapso da URSS e a dissolução formal do KGB, na República Checa, muitos oficiais e agentes se tornaram empresários. Eles imediatamente estabeleceram contatos com a máfia russa, cuja capital não oficial se tornou a cidade de Karlovy Vary.

O Kremlin está fazer muitos esforços na Europa para subornar partidos da oposição em países onde as atividades da Rússia destinadas ao colapso económico da Europa são avaliadas negativamente.
Repetidamente, nos relatos da média aparece informação do financiamento da Rússia ao partido nacionalista francês “Frente Nacional”, à “Alternativa para Alemanha” (AfD), ao partido de direita italiano “Liga” e ao partido de extrema-direita austríaco, o “Partido da Liberdade da Áustria”.

A líder da “Frente Nacional” Marin Le Pen recebeu um empréstimo de 11 milhões de euros dos bancos russos para à sua campanha eleitoral. Como resultado, o partido apoiou a anexação da Crimeia e se opôs às sanções impostas pela União Europeia à Federação Russa.

Em 2018, ficou conhecido um encontro do líder do partido de direita “Liga”, Matteo Salvini, no hotel russo “Metropol” com representantes da administração do presidente Putin, durante o qual foi acordada a esquema para financiar a campanha da “Liga” no valor de 65 milhões de euros.

Em 2019, surgiram informações sobre a reunião entre o presidente do Partido da Liberdade Austríaco (APS) Heinz-Christian Strahe e o chefe da bancada parlamentar da APS Johann Gudenus com um representante dos serviços especiais russos, que apresentava-se como sobrinha do bilionário russo, oferecendo financiamento generoso em troca de sua empresa aceitar contatos não rentáveis que mostra o disponibilidade da elite política austríaca para ter negócios sujos com à Rússia.

O partido alemão “Alternativa para Alemanha”, que é um partido de extrema-direita e extremamente nacionalista, apoia abertamente a Rússia na anexação da Crimeia e defende cancelamento de sanções e uma cooperação mais larga com a Rússia em todas as esferas de atividade. Os candidatos do partido nas eleições de 2019 para o Parlamento Europeu foram apanhados de receber financiamento ilegal da Suíça, onde os serviços especiais russos estão muito ativos, e envolvem-se nas atividades semelhantes para promover a lealdade aos deputados pró-russos.

Todos esses partidos promovem e aumentem a sua posição na Europa com financiamento sujo da Rússia e contribuem para o aumento da influência da Rússia em importantes decisões políticas, incluindo aquelas que ameaçam a segurança do continente europeu.

A Rússia com o Putin à frente do país, sempre se concentrou no setor de energia como instrumento de influência externa.

Putin criou condições de pressão sobre a Ucrânia, Bielorrússia, Polónia e Turquia para que esses países entrarem na dependência do monopólio da Federação Russa no mercado de gás. Para que no futuro, apenas aguardar o final do contrato e aumentar drasticamente os preços para obter preferências políticas. No caso da Ucrânia e da Bielorrússia foram também apresentadas reivindicações territoriais.

Uma estratégia semelhante o Putin tenta implementar nos países da Europa Central, concluindo novos gasodutos diretamente ou através do território de aliados situacionais, monopolizando o mercado da UE. Bulgária, Hungria, Moldávia, Roménia já estão sob pressão energética da Federação Russa, Bielorrússia e Ucrânia continuam a resistir da dependência energética do Moscovo. Atualmente, a Europa permite à Federação Russa cercar-se de gasodutos que não são nada mais do que uma arma económica do Kremlin.

As tentativas da Gazprom de concluir a implementação do Nord Stream – 2, ignorando as sanções, apenas confirmam o acima exposto. Os bilhões investidos em política energética devem ser devolvidos na forma a receber dividendos políticos.

A Rússia é uma ameaça para si própria e para a ordem de segurança mundial. Tudo – consequências da política marginal de Putin.

O único mecanismo para decidir o uso da força militar como último argumento só pode ser a Carta da ONU, disse Vladimir Putin na conferência de Munique em 2007. Mas não se lembrou disso quando atacou a Geórgia em 2008, anexou a Crimeia e desencadeou uma guerra no leste da Ucrânia em 2014. A ONU para Putin é apenas uma tela para encobrir seus crimes.

Em 13 de julho de 2007, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto “pela rescisão do Tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa e tratados internacionais relacionados”. O que marcou o retorno de uma nova Guerra Fria com o Ocidente.

Agora o Putin anunciou uma reforma constitucional da intenção de ser diferente do Ocidente, para criar sua democracia pervertida: é soberana, popular ou social, o principal é que imite os princípios da democracia, os distorçam, trabalhem apenas para a imagem, mas não são um reflexo real do Estado. Na história da Rússia, algo semelhante aconteceu nos tempos de Stalin. Naquela época, a Constituição de 1936 foi declarada a mais democrática, no papel e, de fato, serviu a ditadura de um Secretário-geral.

Em 2006, o Washington Post comentou o termo cunhado pelo Putin, a “democracia soberana”, como uma terminologia do Kremlin, destinada a transmitir a mensagem de que o regime político da Rússia é uma democracia e, segundo, que essa declaração deve ser confirmada, e ponto. Ao fazer isso, qualquer tentativa de verificar a realidade será vista como uma interferência hostil nos assuntos internos da Rússia. Nesse contexto, é mencionada uma anedota: “Qual a diferença entre democracia e democracia soberana? O mesmo que entre uma cadeira e uma cadeira elétrica”. O professor da Universidade de Harvard, Richard Pipes, disse: “A democracia num país ou existe ou não. Democracia de grego significa o poder do povo, que não é o caso na Rússia”.

“A Rússia é um país com mais de mil anos de história e praticamente sempre teve o privilégio de ter políticas externas e domésticas independentes...”, disse Vladimir Putin uma vez. Em outras palavras, ninguém é uma autoridade para nós. As consequências são óbvias – o triunfo do populismo, a destruição progressiva das instituições públicas e estatais, o afastamento dos princípios da lei, a democracia e a economia de mercado” diz o ex-governante russo, Mikhail Kasyanov.

De facto, a reforma constitucional da Rússia de 2020 é uma consequência da ideologia do Kremlin sobre o longo estado de Putin incorporado no modelo de obstrução homónima no modelo do sistema político, onde Putin é o pai da nação e o estado é o próprio Putin.

“A segurança económica é uma área em que todos devem seguir princípios comuns. Estamos prontos para competir honestamente...” A Rússia está “pronta” para cooperar quando é excessivamente forte ou insanamente fraca.

Presidente da Associação dos ucranianos em Portugal

Pavlo Sadokha

 

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