Carta ao Embaixada da República Popular da China em Portugal

Embaixada da República Popular da China em Portugal

Exmo. Senhor Zhao Bentang

Desde há um ano que todos os sábados dezenas de ucranianos, cuja maioria são refugiados oriundos da cidade de Mariupol que foi destruída pelo exército da Federação Russa, manifestam-se na praça D. Pedro IV em frente ao Teatro Nacional de Dona Maria II em Lisboa. Eles pedem o apoio dos portugueses e dos turistas que visitam Portugal para ajudar a Ucrânia na libertação do seu território que é mundialmente reconhecido desde 1991 inclusivamente pela República Popular da China. Também todos os sábados os ucranianos fazem um minuto de silêncio para recordar centenas de crianças e de mulheres que foram sepultadas vivas de baixo de ruínas do teatro em Mariupol, resultado de um hediondo bombardeio de precisão das forças armadas russas a civis. Quem não se lembra das famosas fotografias aéreas da praça do Teatro de Mariupol com a palavra “crianças” para que os ataques aéreos russos poupassem a vida dos que aí estavam refugiados, na sua maioria crianças e mulheres que já não tinham hipótese de fugir da cidade, mas que mesmo assim o sangue frio russo decidiu não as poupar, massacrando-as e enterrando-as vivas. Esta semana todos nós testemunhámos mais um ato bárbaro e grosseiro contra a soberania da Ucrânia e a respectiva memória de todas as vítimas inocentes da agressão russa quando a famosa cantora chinesa Wang Fang tão acarinhada pelo governo chinês, visitou ilegalmente a cidade ucraniana de Mariupol e sobre as ruínas do Teatro pôs-se a cantar a canção russa “Katyusha”, que na propaganda russa é alusiva ao terrível lançador de foguetes soviético muito utilizado pelo exército russo. Exmo. Senhor Embaixador Zhao Bentang, queremos acreditar que as ações e atitudes desta cantora não refletiram a posição geral do Partido Comunista Chinês e do seu líder, do Estado e muito menos do seu povo. Mas para ter toda a certeza pedimos que o Partido Comunista Chinês que está acima do Estado e do Governo da República Popular da China, condene oficialmente este ato tão bárbaro, grosseiro e amoral da cantora chinesa que só irá manchar qualquer boa reputação de mais de cinco mil anos da sua civilização.

Em nome da Associação dos ucranianos em Portugal,

Pavlo Sadokha