Carta às organizações portuguesas que assinaram o "Apelo de Solidariedade com o Povo da Ucrânia"

Створено: 28 липня 2014 Дата публікації Перегляди: 5226
/ Associação Intervenção Democrática-ID, Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, Intersindical Nacional, Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos, Confederação Portuguesa de Quadros Técnicos e Científicos, Conselho Português para a Paz e Cooperação, Cooperativa Mó de Vida, Ecolojovem "Os Verdes", Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal, Juventude Comunista Portuguesa, Movimento Democrático de Mulheres, Sindicato dos Professores da Região Centro, Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Sul, União dos Sindicatos de Lisboa / CGTP-IN /
 
A 17 de julho de 2014 um avião civil foi atingido por um míssil no espaço aéreo ucraniano, matando 298 pessoas de diferentes nacionalidades. Essas pessoas não tinham nada a ver com a guerra russo-ucraniana. Lembramos a terrível dor dos seus famíliares e amigos, especialmente daqueles que perderam os seus filhos. Foram vidas que jamais poderão ser recuperadas, mas esta tragédia poderia ter sido antecipada.
 
A anexação da Crimeia e o estabelecimento dos grupos separatistas no leste da Ucrânia já tornavam uma fatalidade como esta previsível. Há muito tempo que a Rússia planeava e preparava-se para esta agressão. De facto, não só na própria Ucrânia, mas também no mundo ocidental, a propaganda russa formava uma imagem negativa da Ucrânia e do seu povo. Na maioria, os aliados da Rússia eram forças políticas no Ocidente, que se haviam posicionado na luta contra o imperialismo e a discriminação, e que se proclamavam sempre publicamente como defensores da paz e da igualdade.
 
Tomemos agora o exemplo do caso português:
O desejo de libertação do corrupto regime do ex-presidente Yanukovych poderia ter ganhado o apoio das forças políticas que defendem os ideais da Revolução do 25 de abril de 1974, lutadores pala liberdade e igualdade. Contudo, mesmo os comunistas portugueses, de alguma forma se tornaram os principais porta-vozes do imperialismo de Moscovo, culpando a maioria dos ucranianos como nazi-fascistas que fizeram o Golpe do Estado na Ucrânia. De onde vêm estas ideias?
 
Nas eleições presidenciais antecipadas na Ucrânia (25 Maio 2014), que era o principal objectivo dos manifestantes de "Maidan", a favor das forças democráticas votaram 86% dos eleitores: nas quais o recém-eleito presidente Poroshenko, teve  - 54,7%. Assim, os candidatos da extrema direita tiveram uma expressão mínima de apenas 2%. Então, por que é que vocês continuam a chamar o actual governo e o Presidante da Ucrânia de fascistas ou nacionalistas? A principal ideia dos líderes em Portugal é  a de lutar contra a injustiça social. No entanto, para os  ucranianos, vocês propunham que vivessem em um estado corrupto. Onde está a coerência das vossas ideias?
 
O que é que vocês sabem sobre o fascismo ucraniano? Portugal não participou na Segunda Guerra Mundial. Por seu lado, a Ucrânia sofreu as maiores perdas -  7 milhões de ucranianos foram mortos nos combates contra a Alemanha nazi e nos seus campos de concentração. Como podem afirmar que somos colaboradores destas ideias?
 
Sim, temos reivindicações à Rússia. A União Soviética, na verdade, era uma forma velada de imperialismo russo que no período de 1918 até 1991 reprimiram, por razões políticas, 30 milhões de ucranianos, sendo que mais de 10 milhões morreram de uma fome infligida e organizada por Staline. Existiam ideias políticas que visavam diminuir o uso de língua ucraniana. Muitas vezes, ucranianos foram julgados apenas por que gostavam de falar a sua língua nativa, na sua própria terra. Mas não são os nossos tanques que estão agora sob as fronteiras de Rússia. Não são mísseis ucranianos que são levados para rebeldes para o território russo. Não são os serviços de segurança secreta ucraniana que levam mercenários e blindados ao terrorismo organizado pela Rússia. Quais são os factos que possam sustentar a afirmação que os nacionalistas ucranianos tinham ameaçado os russos étnicos na Crimeia?
 
Talvez o apoio foi puramente impulsionado pelos benefícios económicos em relação a Portugal? A balança comercial positiva para Portugal com a Rússia é de 540 milhões de euros, sendo que desses, apenas 150 milhões são provenientes da Ucrânia. Ou talvez alguém esteja ofendido por se derrubarem os monumentos a Lenine na Ucrânia? Nem por escala, nem por razões de origem repressionária, se poderá alguma vez comparar Lenine a Salazar!
 
A vida dos 298 passageiros e da tripulação do voo MH17 não se recuperará. Mas como vocês agora olham para o sofrimento de parentes e amigos dos mortos e continuam a chamar os ucranianos - fascistas, denominando-se a si próprios de lutadores pela paz e solidariedade? Uma terrível tragédia não impediu a Rússia, e nem os vai impedir, de continuar a enviar as suas tropas, que estão a lutar contra a independência da Ucrânia, mísseis poderosos que poderiam atingir não apenas alvos no ar, mas também alvos terrestres em toda a Europa. Justificando a agressão imperialista russa, vocês tornam-se colaboracionistas do terrorismo!
 
O Presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal
Pavlo Sadokha
 
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