Carta aberta ao Ministro da Educação de Portugal

Створено: 04 лютого 2023 Дата публікації Перегляди: 3422

imageExº Senhor Ministro da Educação de Portugal

Prof. Dr. João Costa,

Agradecemos todos os seus esforços e as medidas concretas que foram tomadas para ajudar as crianças ucranianas forçadas a deixar a Ucrânia devido à agressão russa. Desde os primeiros dias do ataque em grande escala, o Ministério que Vª Exª dirige tomou a iniciativade várias reuniões com a Embaixada da Ucrânia e a nossa Associação, no intuito de desenvolver programas para a aceitação e integração de crianças ucranianas.
Os resultados alcançados neste ano tão difícil para todos nós permitem-nos avaliar positivamente os programas do Ministério da Educação para que as crianças ucranianas continuem seus estudos. Agradecemos especialmente aos professores portugueses, que muitas vezes continuaram a cuidar das crianças ucranianas fora do tempo do seu trabalho, dando-lhes carinho e ajuda.
No entanto, a guerra tem consequências graves, que são especialmente sentidas pelas crianças. Trabalhando com crianças ucranianas, os psicólogos observam a presença generalizada de sinais das experiências traumáticas por que infelizmente tiveram de passar. Isto deve-se aos acontecimentos da guerra, às dificuldades de adaptação às novas condições culturais, linguísticas, etc., bem como à desorientação dos próprios pais quanto aos planos para o futuro e à escolha de um ambiente (e dosgrupos de referência) em que os filhos continuem a crescer e a ter uma adequada formação humana, até atingirem a maioridade.
Por isso, os menores – que viram como os invasores russos destroem as suas casas e matam os seus compatriotas e que, além disso, têm noção de que a sua vida passada, habitual, já não retornará – precisam agora de assistência psicológica especial.
Infelizmente, neste contexto, temos de chamar a atenção de Vª Exª para casos individuais, mas inaceitáveis, em que dirigentes de escolas portuguesas procuram envolver adolescentes em actividades políticas. Como é óbvio, isso não deixará de aumentar o trauma psicológicodas crianças ucranianas. Por outro lado, como avaliar, do ponto de vista moral e jurídico, o envolvimento de crianças ucranianas, que nem sequer compreendem plenamente a língua portuguesa, em ações que visam enfraquecer o apoio dos países ocidentais ao povo ucraniano, na sua heroica defesa da pátria invadida e diariamente agredida e destruída?
Como exemplo, citamos o apelo do diretor do Centro de Estudos de Fátima, que pretende envolver as crianças refugiadas ucranianas numa ação política, marcada para 24 de fevereiro de 2023, cujo objetivo é convencer o governo português a não apoiar o fornecimento de armas à Ucrânia,para legítima defesa.
Em particular, a carta e que se manifesta este propósito afirma:
“ Efetivamente este é um assunto que nos é muito caro, até porque nas nossas instalações funciona a escola ucraniana aqui de Fátima e sentimos que ultimamente este assunto está a tornar- se indiferente para os jovens, passando a contar-se mais quantos tanques e drones vamos enviar para o conflito, esquecendo-nos, por vezes, das dezenas ou centenas de militares, de ambos os lados da guerra, que morrem todos os dias, das dificuldades que as populações da ucranianas estão a passar e também certamente do sofrimento das famílias russas que não queriam ver os seus filhos nesta guerra injusta.”
Uma mensagem semelhante teria sido muito apropriada antes de 2014 ou faz agora um ano, mas com um pedido para não fechar os olhos à retórica agressiva do governo russo, que já se preparava para tomar territórios ucranianos, em manifesta violação do direito internacional e de todos os princípios de convivência civilizada entre os estados. Mas não consta que então tenha havido qualquer preocupação desta ordem por parte do Centro de Estudos de Fátima…

Agora, o diretor desta escola está de facto a proporque as crianças ucranianas, que viram soldados russos matar seus parentes ou amigos, violar mulheres ucranianas, lançar a sangue frio bombas num teatro, onde figurava bem legível o aviso "Crianças", se oponham ao desejo legítimo de seu povo de expulsar o agressor da sua terra. Todos os ucranianos agora sabem que não fornecer armas à Ucrânia significa condenar os ucranianos à morte certa. E essa consciência é partilhada por um número cada vez maior de homens e mulheres de boa vontade por todo o mundo. Mas não parece ter chegado ao Centro de Estudos de Fátima.

Exmo. Senhor Ministro,

Não podemos isolar completamente as crianças ucranianas e impedi-las de vivenciar esta terrível guerra. Mas temos a oportunidade e o dever de não as deixarmos envolver em manipulações políticas duvidosas, até atingirem a idade adulta e poderem então decidir por si
São estas crianças que vão reconstruir a Ucrânia –uma Ucrânia livre onde os valores humanos não se rendam ante o terrorismo.

Com respeitosos cumprimentos,
Presidente da Associação dos ucranianos em Portugal,
Pavlo Sadokha

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