IDEOLOGIA ASSASSINA

Створено: 10 січня 2023 Дата публікації Перегляди: 2349

11No dia 1 de Janeiro deste ano, o "JN" publicou um artigo intitulado "Sete ucranianos acusados de crime de ódio contra dona russa de loja em Braga”.
O artigo foi baseado na acusação do Ministério Público e nos comentários do defensor dos arguidos.
No início de março de 2022, um grupo de cidadãos Ucranianos entraram numa loja em Braga, propriedade de uma cidadã Russa e verificaram que a bandeira Ucraniana estava colocada ao lado da bandeira da Federação Russa e da bandeira da extinta URSS (que os ucranianos associam principalmente com o Holodomor e perseguição com base na identidade nacional). Tendo ficado revoltados com tal falta de respeito solicitaram que fosse retirada a bandeira Ucraniana.
A dona da loja recusou retirar a bandeira e mais tarde recusou vender todos os símbolos Ucranianos aos Ucranianos.
Isto causou uma troca de acusações verbais de natureza exclusivamente política decorrente da bárbara agressão Russa à Ucrânia e, sobretudo, ao povo Ucraniano.
Não obstante o exposto, a dona de loja chamou a polícia que , ao chegar ao local, pediu os ucranianos para abandonar o local, tendo procedido , porém, à identificação dos mesmos.
Dez meses depois, os Ucranianos receberam uma acusação do Ministério Público pela prática do crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência previsto no artigo 240 nº 2, al. a), b), c) e d) do Código Penal.
Como cidadão Ucraniano, entendo a motivação desses sete Ucranianos, principalmente no início da guerra, mas não concordo com essa forma de manifestação de protesto.
Contudo, acredito que a justiça de Portugal levará em consideração todas as circunstâncias do caso e dará uma sentença justa.
No entanto, este caso levanta toda uma série de problemas sócio-políticos cuja complexidade se verificará sempre que tais casos se repetirem.
Primeiro.
O problema dos tradutores de língua Ucraniana em processos em que intervenham migrantes ucranianos. Recordemos o caso do homicídio de Ihor Humenyuk no aeroporto de Lisboa. Houve um facto importante nesta história que não foi muito falado: a primeira tradução do inquérito de Igor por funcionários do SEF foi feita por uma agente em língua russa. Quem garantiu que Igor entendeu tudo e que essa pessoa traduziu corretamente as intenções de Igor em relação à sua visita a Portugal? Deficiente tradução podia ter sido o principal elo na cadeia de factos que levaram à sua morte.
Que conhecimento têm as autoridades portugueses que as línguas Russa e Ucraniana são distintas?
Existe alguma entidade em Portugal que faça a triagem?
Com a agravante dos Russos não reconhecerem os Ucranianos como um povo autónomo e com a própria língua. A grande maioria dos Russos apoiou a anexação da Crimeia e a tomada de Donbass. Como garantem as autoridades Portugueses que um tradutor Russo ou um cidadão Uraniano que apoia Putin não traduzirá deficientemente com o objetivo de prejudicar um cidadão Ucraniano apenas por motivos chauvinistas?
Eu frequntei estabelecimentos de ensino com línguas Russa e Ucraniana e , por isso, sei do que falo. No caso concreto, em Braga, tive oportunidade de ouvir as gravações áudio durante o conflito na loja russa e posso afirmar que as frases em Ucraniano e Russo tal como são apresentadas na acusação do Ministério Público e a seguir no artigo do JN não correspondem à tradução correta em Português. Então, quem fez a tradução? Como pôde o procurador do Ministério Público avaliar que tradução era autêntica? A própria vítima, uma cidadã Russa, entendeu corretamente as palavras dos cidadãos Ucranianos? Como foi possível que no interrogatório na polícia judiciária a tradução ente inspector e arguidos Ucranianos era feita por uma intérprete da língua Russa. Novamente surge a pergunta: quais são suas opiniões políticas? Ela é pro Putin ou pro Ucrânia?
Acho que no 9º ano da agressão russa, os órgãos de segurança de Portugal devem levar em consideração esse aspecto para decisões justas.
Segundo.
Qual são medidas para prevenir os conflitos entre Ucranianos e Russos em Portugal?
É conhecido, que após a revolução de 1974, a URSS, ou seja, a Rússia, ganhou amplo acesso aos meios políticos e universitários de Portugal. Como migrantes ucranianos sentimos isso quando chegamos em massa no início do novo século. Quase ninguém sabia distinguir os Ucranianos como um povo autónomo e com uma história de mais de mil anos. Na escola e nas estudos académicos da história em Portugal a Ucrânia quase sempre foi mencionada como parte da Rússia. Ainda hoje, a Santa princesa Olga, que baptizou a Rus de Kiev (não confundir com a Rússia, que adoptou este nome no século XVIII), é referida nos livros de história em Portugal como “Santa Ortodoxa Russa”, o que não pode ser verdade, pelo menos para a razão pela qual no século IX ainda não havia divisão da Igreja Cristã em Ortodoxa e Católica.
Mas, mais importante e que está nos preocupar, a sensação que existe uma certa proteção em Portugal relativamente à Rússia em detrimento da Ucrânia pelas instituições que tem como função prevenir discriminação por nacionalidade.
Concretamente, o Alto Comissariado para Migração constantemente discriminou os Ucranianos com base na nacionalidade. Começando com o nome no Conselho de Migração, onde éramos oficialmente chamados como “De Leste" e não da Ucrânia, e até já depois de 24 de fevereiro, quando Alta Comissária foi informada sobre problema das organizações pro-Putin em Portugal, mas mesmo assim recomendou as refugiados Ucranianos que procurassem apoios na organização pro-Putin "Edinstvo" em Setúbal.
Infelizmente, essa tendência não parou até agora. As organizações pró-Putin continuam a ter acesso aos migrantes Ucranianos, onde continuam a sua propaganda. Em situação vulnerável os refugiados têm medo reclamar para não serem prejudicados.
Dez meses da guerra/agressão em grande escala com toda a violência cometida pelos militares russos na Ucrânia mostraram que os Ucranianos não generalizam os russos e sabem distinguir entre quem também sofre com o regime de Putin e quem o apoia. Muitos russos estão lutando ao lado da Ucrânia contra o regime de kremlin. Há russos em Portugal que saem com os ucranianos em manifestações contra a guerra, quem condena a agressão de Putin nos meios de comunicação. Independente da nacionalidade pessoas lutam por valores comuns de paz. Esta guerra não é entre Russos e Ucranianos, mas entre um regime autocrático e o mundo livre.
O que é falso é quando apoiantes do Putin em Portugal colocam crianças Ucranianas ao lado de Russos na escola com apelos à paz. Aí não se trata da intenção de parar de matar crianças Ucranianas. Usam crianças para fins políticos. Para criar uma pressão pública para parar o fornecimento de armas à Ucrânia para sua autodefesa e impedir o direito a recuperar os territórios Ucranianos ilegalmente ocupados desde 2014, tudo a mando do desejo expansionista e imperialista de Putin.
No caso de Braga, os Ucranianos entraram naquela loja da cidadã Russa e protestaram não porque estivesse em causa uma cidadã Russa mas porque estava lá exposta bandeira da URSS junto com bandeiras da Ucrânia e Rússia. Antes de 24 de fevereiro, isso era aceitável mas, depois do início da agressão com bombardeamentos em massa de cidades Ucranianas e homicídios também em massa da indefesa população civil, concretamente crianças, qualquer símbolo de totalitarismo Russo junto com a bandeira da Ucrãnia revolta qualquer Ucraniano.
Se, por um lado, a dona da loja, num país democrático pode pôr as bandeiras que entenda, por outro lado, quando o governo convida os refugiados Ucranianos a encontrar um abrigo em Portugal, tem que ter em conta que estes refugiados trazem o estigma e sofrimento causados pela agressão russa. Muitas deles viram como os soldados russos mataram os seus entes queridos. Por isso proibir os símbolos de totalitarismo e agressão nos espaços públicos seria de elementar bom senso e um passo para evitar sentimentos de ódio e revolta.
O terceiro.
O caso de Braga, para os Ucranianos, deixa a sensação que em Portugal pode existir uma justiça seletiva.
Como já referido anteriormente, há muitos anos que se assiste em Portugal um certo lobby político defensor da propagada de Putin contra a Ucrânia, nomeadamente do PCP. Várias vezes este partido com assento parlamentar denegriu públicamente o governo Ucraniano, democráticamente eleito e reconhecido por todos os países do mundo incluindo a Rússia, comparando-o a um regime Neo-Nazi.
Foi este o principal argumento para o Putin começar a agressão e invasão massiva a Ucrânia no 24 de fevereiro.
Desde 2014, a nossa e outras Associações de Ucranianos em Portugal apelamos aos vários ramos do governo e Parlamento para não apoiar a propaganda de Putin.
Em 2019 num evento chamado “Regimento imortal”, organizado pela embaixada Russa e vários organizações pro-Russas, infelizmente também com o apoio da CM Lisboa, os apoiantes de Putin agrediram fisicamente os Ucranianos que criticaram o uso neste evento das bandeiras da chamados repúblicas separatistas do Donetsk e Lugansk.
Foram abertos três processos.
No primeiro caso, uma senhora Russa do Porto, que modera um grupo no Facebook com 20 mil membros, depois das minhas críticas do evento “Regimento imortal” perguntou na sua rede social, se há alguém tem coragem, para acabar comigo?
Neste caso o Ministério Público considerou que este mensagem não é ameaça e ódio.
No outro caso, um ativista ucraniano foi atacado fisicamente por um indivíduo só porque criticou o Estaline. Em resultado teve danos no seu carro e ferimentos corporais. E neste caso o MP não encontrou fundamento para acusar o agressor.
Também, durante aquele evento, um dos organizadores agrediu uma Ucraniana e danificou o seu telefone.
Há três anos que o inquérito continua pendente.
Em abril deste ano, recebi ameaças diretas dum apoiante do Putin. A pessoa que ameaçou está identificada. Já passaram 9 meses sem acusação do M. Público. O homem continua enviar as mensagem de ódio.
Assim, o caso de Braga não ofereceria qualquer comentário se em situações idênticas em que estão em causa participações ou denúncias de Ucranianos contra Russos, por agressões, danos e ameaças, se tivesse seguido o mesmo desfecho.
Com efeito, neste caso, uma discussão política em uma loja de uma cidadã Russa foi tipificada como crime e deu já origem a uma acusação pública.
A Ucrânia conseguiu resistir até agora os ataques do superior exército russo graças a forte apoio do Ocidente. Desta vez, os países do “mundo livre” não acreditaram na propaganda russa. Mas e guerra ainda não terminou e vai muito depender da continuação de apoio à Ucrânia. O próprio Putin disse que ainda tem ainda muitos “amigos” no Ocidente que estão fazer o seu trabalho.
É triste ver que no século XXI a sociedade, as vezes não dá a importância de que a ideologia um dia poderá servir de razão para matar.

Presidente da Associação dos ucranianos em Portugal
Pavlo Sadokha

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