João Mendonza, tenor setubalense, deu concertos na Ucrânia: “Não fechem os olhos a este povo, onde há pessoas a morrer de frio”

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7João Mendonza, realizou recentemente concertos solidários na Catedral de Assunção de Maria, em Lviv, Ucrânia. O jovem tem demonstrando o seu apoio ao povo ucraniano, desde o início da invasão da Rússia, em fevereiro deste ano, e participado em várias ações solidárias. O artista confessa que, após esta experiência, “voltei uma pessoa nova, sinto que não tenho o direito de reclamar ou de me lamentar” e apela aos portugueses para não esquecerem este conflito na “nossa Europa, onde há pessoas a morrer de frio”.

 

Florindo Cardoso
Setúbal Mais Como surgiu a ideia de dar um concerto em Lviv, Ucrânia?

João Mendonza
Foi uma ideia que surgiu de uma forma muito espontânea. Logo no início da invasão da Rússia, comecei a marcar concertos solidários pelo país, para angariar fundos e bens para esta causa. Nas comemorações da independência da Ucrânia, quando cantei para a comunidade que vive no nosso país e para refugiados (que são milhares em Portugal), senti que tinha de ir e sair da minha zona de conforto e enfrentar o problema diretamente.

Setúbal Mais O que sentiu quando entrou em território ucraniano, sabendo que estava em cenário de guerra?

João Mendonza
Ao sentir a data da partida a aproximar-se comecei a sentir-me bastante ansioso. Nunca tinha estado num país em guerra, não é algo que a nossa cultura esteja preparada. Um dia antes de partir, os russos bombardeiam Lviv, e aí pensei seriamente em não ir porque as informações que nos chegavam não eram favoráveis à nossa ida. Recebi mensagens dos organizadores a quererem adiar os concertos por falta de condições, mas mesmo assim fui. Tive de esperar cinco dias em Cracóvia, na Polónia, até que as coisas acalmassem. Ao quinto dia, recebi a confirmação do concerto, onde o público foi dividido em dois (por razões de segurança não é possível grandes ajuntamentos). E aí parti, com a minha namorada Rita, que é a produtora dos meus espetáculos, fomos da única forma possível, de autocarro, numa viagem de mais de sete horas. Ao chegar à fronteira comecei a sentir o clima da guerra, filas intermináveis de carros, carregados de bens, pessoas a querer fugir dali para fora e nós a querer entrar, um contrassenso com alguma ironia.

Setúbal Mais Como descreve o concerto, o repertório apresentado e como foi possível fazer já que há restrições de energia elétrica?

João Mendonza
A maior parte das canções que cantei foram do meu último álbum Ao Vivo o disco que dediquei ao povo ucraniano e que tem servido como veículo de entreajuda e de promoção dos concertos solidários. Aprendi também uma canção em ucraniano para poder cantar com eles, foi a canção que usei como despedida, um tema muito popular no país, chama-se ;Стоїть гора високая que significa A Montanha Alta que fala dos lindos prados e montes da Ucrânia. Os concertos que dei foram ainda com a luz do dia, para em caso de apagão ser possível continuar. Cantei sem amplificação e o piano era acústico. Foi uma sensação estranha estar a cantar e saber que a qualquer momento, uma sirene podia tocar e nos obrigaria a correr para um abrigo, mas felizmente correu tudo bem.

Setúbal Mais Foi um concerto solidário, para quem vai esta ajuda da bilheteira?

João Mendonza

A campanha em que estive envolvido chama-se (em português Tocar pela Ucrânia), e tem o intuito de angariar fundos para as forças militares ucranianas. No concerto tive a honra de poder cantar para vários militares que se mostraram muito gratos pela ajuda.

Setúbal Mais O que o marcou mais nesta viagem e no contato com o povo?

João Mendonza
O que encontrei na Ucrânia foi exatamente aquilo que assistimos na televisão, mas como não sentimos na pele, acho que não entendemos bem o sofrimento daquele povo. Fiz questão de visitar instituições de solidariedade, onde convivi com crianças refugiadas autistas de Kherson, cidade do Leste, que está praticamente destruída. Só ao chegar ali percebi o que é viver sem luz, sem aquecimento e sem comunicações. Senti um povo triste que precisa da nossa ajuda, que vive numa incerteza diária e num medo constante, mas que nunca desiste de lutar. Esta viagem foi um ensinamento para a vida.

Setúbal Mais Qual a mensagem que deixa e de que forma esta experiência o enriqueceu mais como pessoa?

João Mendonza
Sinto que voltei uma pessoa nova, sinto que não tenho o direito de reclamar ou de me lamentar. Quem o pode e deve fazer são eles. Nós que estamos aqui, temos tudo, teremos sempre os nossos problemas, mas serão sempre incomparáveis com aquilo que vi. Quero agradecer aqui publicamente ao Pavlo Sadokha, da Associação dos Ucranianos de Portugal, o contacto que me ajudou em toda a logística da minha ida e também à Embaixada da Ucrânia em Portugal, por estarem sempre em contacto. A mensagem que deixo a todos é simples: ajudem. Não fechem os olhos a este povo, temos uma guerra na nossa Europa, onde há pessoas que estão a morrer de frio, qualquer ajuda é bem-vinda, por mais pequena que seja, a solidariedade não é quantificável, é uma dádiva.

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Uma vida dedicada à música
De Setúbal para o mundo
João Mendonza, nascido em Setúbal a 26 de outubro de 1991, é um tenor, letrista e compositor português. O jovem artista, com descendência basca, já que o seu apelido Mendonza provém de sua avó, paterna fez a sua estreia, com apenas 11 anos, na primeira ópera infantil realizada em Portugal, “Cinderella”, na Culturgest, em Lisboa.
Com 16 anos apresenta-se como Príncipe Eneias, nos palcos do Centro Cultural de Belém, com a ópera barroca, “Dido e Aeneas”. Cantou também no Teatro São Luiz e Teatro Nacional de São Carlos até terminar o seu curso com 18 valores no Conservatório Nacional de Lisboa, para o curso de Belcanto. Durante os estudos de música, formou-se também em Comunicação Social e Cultural, pela Universidade Católica Portuguesa.
Em 2012, surge como vocalista na banda Radiophone e grava dois temas originais para séries da TVI. Após o fim deste projeto Radiophone, funda em 2015 com Carlos Xavier e Pedro Zagalo (Polo Norte) os “Passione”, o primeiro projeto pop-lírico em Portugal. Nos anos seguintes percorrem o país apresentando o seu primeiro álbum homónimo.
Em maio de 2017, o tema original “Ave Maria”, é entregue em mão como Oferenda Oficial do Estado Português, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao Papa Francisco, em Fátima. Um ano mais tarde, os “Passione” são convidados pelo Estado do Vaticano e são recebidos na Praça de São Pedro, pelo Papa onde têm a honra de oferecer o seu álbum. Tocam também em Roma, sendo os primeiros artistas portugueses em mais de 20 anos, depois de Madredeus, a atuar na cidade.
No verão de 2019, viaja até à India, onde toca na cidade de Margão, no antigo estado português de Goa. Visitam também Dharamshala, na encosta dos Himalaias, onde entrega o seu álbum ao líder espiritual budista Dalai Lama, que se encontra exilado e onde convivem com a comunidade religiosa tibetana.
Em dezembro, aposta na internacionalização e estreia-se em palcos franceses, onde é convidado de Estado pelo Consulado-Geral de Portugal em Estrasburgo, onde apresenta “Grand Concert de Noël com a presença do Corpo Diplomático do Conselho Europeu, torna-se presença assídua na cidade, fazendo parte de eventos regulares na Feira de Natal de Estrasburgo.
Em 2020, em plena pandemia, fez parte da fundação da Companhia de Ópera de Setúbal, juntamente com outros artistas setubalenses, onde se dedicou à direção vocal e performance artística.
Em 2021 lança-se numa carreira a solo, onde apresenta o seu espetáculo Concerto a Maria por todo o país e em também em França, nas cidades de Paris (Gala Cap Magellan) e Estrasburgo (Festival Europeu de Cinema). Em dezembro, foi de novo convidado a cantar em França, desta vez, a Catedral Notre-Dame de Estrasburgo, onde cantou “Ave Maria”, sendo o primeiro português de sempre a cantar naquele espaço.
Com o início da Invasão Russa à Ucrânia, em março de 2022, edita o álbum Ao Vivo com o intuito de angariar fundos para o povo ucraniano, apresenta-se também com um ciclo de concertos solidários pela Ucrânia em diversos locais do país.
Em abril de 2022, foi o representante de Portugal nas celebrações dos 200 anos da Independência do Brasil e da Bahia, na cidade de Salvador, onde cantou com a Orquestra Sinfónica da Bahia.
Em maio, representou Portugal em Roma, cantando no Centro Mariapoli, em Castel Gandolfo, no Encontro Mundial da Congregação de Apresentação de Maria, onde se festejava a Canonização de Santa Maria Rivier.
Encontra-se neste momento em estúdio, para gravação do seu primeiro álbum a solo, que terá produção de Jorge Fernando e participação de vários compositores portugueses como Tozé Brito, Custódio Castelo, Ana Moura, Kapa de Freitas e do próprio Jorge Fernando.

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