Carta dos ucranianos em Portugal

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18Nós ucranianos não culpamos os portugueses pela morte do Igor. Não queremos utilizar a violência e fazer com que os partidos políticos utilizem estas situações para seu proveito partidário, observador.pt

Em 12 de março de 2020, um ucraniano foi morto no aeroporto de Lisboa.

Muitas pessoas, cujas responsabilidades profissionais incluem proteger a vida, a saúde e os direitos humanos, viram Igor Homenyuk, algemado e a morrer. Ele estava a morrer por um “crime” que era procurar um emprego noutro país. Um trabalho honesto.

A sua morte não causou um boom global de informações, protestos em massa, lojas saqueadas, etc.

A sua morte não se enquadra em nenhuma categoria de discriminação “popular”.

Ele era um cristão desinteressante e um bom homem de família que tinha a responsabilidade de garantir o futuro dos seus filhos. Ele era um dos milhões trabalhadores migrantes que existem agora no mundo.

Vivemos num mundo pervertido, onde aqueles que tentam ser honestos não são interessantes para o feed de notícias não se tornando heróis a seguir.

Neste caso em particular, não há evidências de que o Igor tenha morrido por ser ucraniano, por ter uma cor de pele diferente ou por ter uma religião diferente. Até ao final da investigação, não sabemos a causa da sua morte.

Não existem países no mundo onde não haja casos de abusos da força policial, banqueiros que não usem a sua posição oficial para desviar dinheiro da conta de alguém para a sua e onde funcionários públicos não recebam subornos para resolver algum assunto. Crimes de abuso de poder não têm fronteiras ou nacionalidades. A resposta da sociedade a estes crimes é crucial. É esta resposta que constrói um estado de direito e responsabiliza todos os membros da sociedade.

Eu vivo em Portugal há vinte anos. Eu sou imigrante e sei o que Igor sentiu quando foi procurar trabalho fora da sua terra natal. Milhões sabem o que Igor passou. Ucranianos, portugueses, brasileiros, cabo-verdianos, todos aqueles que, por causa das desigualdades econômicas globais, estão à procura de oportunidades de trabalho honesto. Por causa disto tivemos que suportar humilhação, mal-entendidos, enganos e salários mais baixo.

Mas como imigrante, estou convencido que não é através de manifestações violentas e distúrbios na via pública que se resolve o problema da imigração e os problemas sociais que daí advém.

Nós ucranianos já vivemos no século passado em 1917 uma revolução de sangue e violência que ceifou milhões de vidas inocentes e interrompeu o desenvolvimento cultural e económico de muitas nações e foi a principal causa da imigração em massa de ucranianos para todo o mundo.

Nós ucranianos não culpamos os portugueses pela morte do Igor. Recebemos centenas de cartas de portugueses, brasileiros e organizações solidárias com palavras de pesar e apoio. Todos nós, ucranianos, portugueses e todos os imigrantes que vivem em Portugal, estamos chocados com o que aconteceu e procuraremos uma investigação justa, mas não queremos utilizar a violência e fazer com que os partidos políticos utilizem estas situações para seu proveito partidário. Violência só gera violência

O que eu vou fazer é imprimir a foto de Igor e colocá-la ao lado de meu documento de identificação assim cada vez que eu passar a fronteira ou visitar os serviços de migração lembro aos funcionários o que aconteceu em 12 de março de 2020 no aeroporto de Lisboa.

Pavlo Sadokha, Presidente da Associação dos ucranianos em Portugal

observador.pt

 

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