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Ucrânia tem sido o centro de atenções desde Novembro do ano passado. A informação circula em grande quantidade, mas parece não ser suficiente para moldar uma clara opinião pública portuguesa sobre o que afinal se passa neste ex-país da União Soviética.
“Não ao fascismo – Solidariedade com os povos da Ucrânia” – este foi o título do debate realizado no passado dia 27 de Junho, que causou muitas agitações numa das salas do Clube Estefânia, em Lisboa. Organizado pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) contava com uma maioria portuguesa, com idade em média superior a 50. Contudo não faltou a presença de imigrantes Ucranianos, que vieram ver debatidas questões relativas ao seu país.
Desde o início este debate viu-se condenado. Falou-se da história da Ucrânia, das diferenças culturais e ideológicas de um país que nenhum dos oradores conhecia a realidade. Os oradores portugueses chegaram mesmo a afirmar que o povo ucraniano devia ir estudar a sua própria história. Num debate cujo no nome encontramos palavras como “não ao fascismo” e “solidariedade”, parece pouco solidário quando são proferidas frases como “não fales assim que não estás em tua casa”. Só se trata de solidariedade quando é estendida uma mão cheia de comida? Ou quando os homens são encarados todos por igual e com respeito? Não é tolerância que se deseja no mundo, mas sim compreensão que permite atingir a solidariedade na sua essência.
O ponto mais focado no debate, por portugueses presentes, foi a propaganda americana. A presença dos Estados Unidos na revolução de Maidan e o financiamento por parte deste país de 5 mil milhões de USD para que no fim de contas, a Ucrânia vire as costas à Rússia e esteja ideologicamente ligada aos Estados Unidos da América. Desta forma os Estados Unidos tornar-se-ão a potência mais poderosa do planeta. Conseguirá colocar mísseis nos quatro cantos do mundo e controlá-lo. Há vários pontos a focar aqui. O povo ucraniano, em primeiro lugar, não está a abrir os braços aos EUA e a tomar as suas ideologias, mas sim, receber de bom grado todos que queiram ajudar a Ucrânia a ganhar a sua independência e a possibilidade de seguir o seu próprio rumo. A Europa, por exemplo, estará eternamente grata pelo Plano Marshall que possibilitou a sua ressurreição das cinzas da Segunda Guerra Mundial.
Em segundo lugar, porque os EUA estão a aumentar o seu poder, isso significa que temos de dar espaço para a Rússia fazer o mesmo? Porque é preferível ter duas híper potências no mundo ao invés de uma? Porque a Ucrânia desde há muitos anos vive sob imperialismo russo, isso faz com que seja justa a sua continuação? Continuar a corrupção em todos os sistemas, privação de liberdade de expressão, impossibilidade do desenvolvimento económico, entre tantas outras questões, só para que a Rússia domine em mesmo pé de igualdade que os EUA. Ignorando a presença do resto do mundo, nomeadamente da ascensão da China.
Mas no mundo moderno o comunismo e o capitalismo deram-se sempre mal, e consequentemente todos que se ligam a tais ideologias políticas. Há quem acredite que a Guerra Fria ainda hoje exista, e temos cada vez mais provas da verdade desta afirmação.
Todos os meios de comunicação social na Rússia são controlados por Kremlin, e todos aqueles que descordem das suas linhas editoriais sofrem as consequências. Não é por acaso que a Rússia é considerada um dos países mais perigosos para jornalistas. Mas na opinião da maioria portuguesa no Clube Estefânia, a propaganda americana é a única que vale a pena ser mencionada neste momento. Contudo não são canais da televisão americana que passam na Ucrânia de leste e moldam a opinião pública, mas sim canais russos.
O fascismo existe na Ucrânia, mas para uns provém da Rússia, devido à sua entrada em terras ucranianas violando todas as leis internacionais e cometendo crimes contra a humanidade. E do outro lado a opinião de que fascismo vem de Kiev. Os nomes de dois partidos foram mencionados neste debate como provas de fascismo proveniente da capital ucraniana - “Praviy Sektor” e “Svoboda”. Ambos partidos são vistos por todos os europeus e todos os ucranianos como os mais extremos, existem da mesma forma que em muitos outros países existem partidos de extremas, é uma realidade inegável. Contudo é de destacar que na Ucrânia estes partidos não encontram apoio popular, ao contrário do que é defendido por muitos.
Uma forte contestação por parte de imigrantes ucranianos tomou a sala de debate no momento em que foi utilizada uma citação de Putin - “a queda da União Soviética foi o pior que aconteceu ao mundo”, lido por um indivíduo na casa dos 50/60. Naquela sala só os ucranianos sabiam o que realmente foi a União Soviética, e aquilo que esta União significou. Danos irrecuperáveis que qualquer ditadura provoca, e que nunca devem ser esquecidos.
O debate prolongou-se por mais de duas horas, e em vários momentos ninguém escutava ninguém, o respeito perdia-se mutuamente e os olhares queimavam de intensidade. A utilização do nome de Stepan Bandera, herói ucraniano, como um ídolo fascista foi um momento de golpe para os ucranianos que controlavam cada respiração. Muitos dos portugueses presentes tinham já a sua opinião formada, apesar de não conhecerem a realidade de que opinam. Stepan Bandera é um herói que lutou pela independência da Ucrânia, pela sua libertação e prosperidade, tal como na Venezuela fê-lo Simón Bolívar.
Informação é a arma mais poderosa do século XXI, e cabe a cada um de nós lutar pelo nosso direito de possuir a mais correcta e apurada das informações. Interrogação perante o que nos é dado de bandeja estendida é um primeiro passo para tal.
Yaryna Kvitka
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